quarta-feira, 17 de junho de 2009

Teresa Margarida da Silva e Orta

Teresa Margarida da Silva e Orta nasceu em São Paulo no ano de 1711 ou no início de 1712, sendo que não há registros exatos de sua data de nascimento. Em 1716 viajou com a família para Portugal, onde morreu em 1793 em Lisboa.

Seu pai, José Ramos da Silva, tinha chegado ao Brasil em 1695, com pouco mais de doze anos de idade, como criado de servir. Era filho natural de Valério Ramos e de Maria da Silva, lavradores, naturais e residentes na freguesia de São Miguel de Beire, bispado do Porto. Após uma curta permanência na Bahia, onde então ficava a capital da colônia, foi tentar a sorte em São Paulo, onde se casou, em 1704, com Dona Catarina Dorta, brasileira, de sangue mestiço, mas também descendente dos Orta, família tradicional portuguesa. José Ramos da Silva notabilizou-se durante a invasão francesa ao Rio de Janeiro ocorrida em 1710. À época, já era um próspero comerciante, possuidor de uma boa fortuna, a qual foi alcançada, sobretudo, com negócios para as Minas Gerais.

Em 1716, José Ramos da Silva decidiu regressar a Portugal com a família, mantendo através de seus procuradores importantes negócios no Brasil. Na metrópole, ele conseguiu ser feito Familiar do Santo Ofício, tendo recebido o título de Cavaleiro da Ordem de Cristo e arrematado o contrato de dízima da Alfândega do Rio de Janeiro. Em 1722, comprou o cargo de Provedor da Casa da Moeda de Lisboa, um dos cargos mais cobiçados do reino.

A família tinha três filhos: Matias Aires, o mais velho, educado pelos jesuítas no Colégio de Santo Antão; Teresa Margarida e Catarina Josefa, educadas no Convento das Trinas, e destinadas à vida religiosa. Este convento, fundado em 1661, acolhia meninas entre os sete e os vinte e cinco anos de idade. José Ramos da Silva parece ter planejado concentrar toda a riqueza nas mãos do filho varão. A mais nova, Catarina, será freira, não se sabe se por vocação ou adesão, e chegará a abadessa do Convento de Odivelas.

Quanto a Teresa Margarida, outro foi o seu destino. Conhecera, provavelmente durante o tempo em que permaneceu no convento das Trinas, Pedro Jansen Moller, 10 anos mais velho, por quem se apaixonara. Com apenas dezesseis anos ela solicitou dispensa matrimonial ao Patriarcado de Lisboa para poder casar-se sem a autorização paterna.

O pai, José Ramos da Silva, inconformado com a autorização obtida pela filha que se casou a 20 de janeiro de 1728, não aceitou as diligências conciliatórias do jovem casal. Para padrinho do primeiro dos doze filhos de Teresa Margarida, foi convidado o pai; para madrinha do segundo, a mãe Dona Catarina. Nenhum compareceu aos batizados, mas o pai não deixou de assistir ao casal com elevadas quantias de dinheiro, queixando-se, contudo, do genro arrivista e das atitudes da filha.

O marido de Teresa Margarida faleceu em 1753, deixando-a numa delicada situação financeira e com doze filhos para educar. Os processos por ela movidos contra o irmão Matias Aires, para reivindicar a sua parte na fortuna paterna, pois o pai a deserdara, arrastaram-se pelos tribunais durante longos anos. Feriam os interesses do irmão, herdeiro universal, que alegava ter esta recebido em vida do pai somas ultrapassando significativamente o que lhe caberia pela legítima herança.

Teresa Margarida foi presa em 1770, por acobertar os amores de seu filho mais novo, chamado Agostinho, com Teresa Mello, da Casa dos Melo. Teresa Margarida foi presa no mosteiro de Ferreira de Aves, sob ordens do Marquês de Pombal. Agostinho foi degredado para Angola. Quanto a Teresa Melo, esta foi presa num convento, privada dos bens de família e desnaturalizada, isto é, impedida de usar o nome de família.

Somente após a morte de D. José as arbitrariedades cometidas pelo Marquês de Pombal, parente de Teresa Melo, foram remidas por D. Maria I. Em 1777, Teresa Margarida foi posta em liberdade. Dessa data em diante, ela irá viver em Lisboa na companhia de seu cunhado, o monsenhor e inquisidor Joaquim Jansen Moller.

O seu livro, As Aventuras de Diófanes, foi publicado em 1752. O título original era Máximas de virtude e formosura com que Diófanes, Climinéia e Hemirena, príncipes de Tebas, venceram os mais apertados lances da desgraça. Teresa Margarida usou o pseudônimo Dorotéia Engrássia Tavareda Dalmira. Só mais tarde se conheceria o verdadeiro nome da autora, que faleceu em 20 de Outubro de 1793.

Poema Épico-Trágico é o título de outro livro seu, sendo este escrito entre 1770 e 1777, durante o tempo em que Teresa Margarida esteve presa. Neste livro, provavelmente a autora teve a intenção de valorizar a si mesma e a sua história pessoal com o objetivo de obter o perdão do rei. A primeira edição deste livro foi publicada em Portugal em 1990 por iniciativa da Professora Doutora Maria de Santa Cruz. No Brasil, a publicação se deve à pesquisadora Christina Ramalho e data de 1993. Ambas as edições tiveram por base o manuscrito pertencente à Biblioteca José e Guita Mindlin.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo blog. As pesquisas são muito boas. Com certeza adicionarei esse blog nos meus favoritos!Bruno Rodrigo

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