domingo, 31 de maio de 2009

Santa Rita Durão

Fragmento de "O Caramuru"
Canto I
I
De um varão em mil casos agitado,
Que as praias discorrendo do Ocidente,
Descobriu o Recôncavo afamado
Da capital brasílica potente:
Do Filho do Trovão denominado,
Que o peito domar soube à fera gente;
O valor cantarei na adversa sorte,
Pois só conheço herói quem nela é forte.

II
Santo Esplendor, que do grão-Padre manas
Ao seio intacto de uma Virgem bela;
Se da enchente de luzes Soberanas
Tudo dispensas pela Mãe Donzela;
Rompendo as sombras de ilusões humanas,
Tu do grão caso! a pura luz revela
Faze que em ti comece, e em ti conclua
Esta grande Obra, que por fim foi tua.

III
E vós, Príncipe excelso, do Céu dado
Para base imortal do Luso Trono;
Vós, que do Áureo Brasil no Principado
Da Real sucessão sois alto abono:
Enquanto o Império tendes descansado
Sobre o seio da paz com doce sono,
Não queirais de dignar-vos no meu metro
De pôr os olhos, e admiti-lo ao cetro.

IV
Nele vereis Nações desconhecidas,
Que em meio dos Sertões a Fé não doma;
E que puderam ser-vos convertidas
Maior Império, que houve em Grécia, ou Roma:
Gentes vereis, e Terras escondidas,
Onde se um raio da verdade assoma,
Amansando-as, tereis na turba imensa
Outro Reino maior que a Europa extensa.

V
Devora-se a infeliz mísera Gente,
E sempre reduzida a menos terra,
Virá toda a extinguir-se infelizmente;
Sendo em campo menor maior a guerra.
Olhai, Senhor, com reflexão clemente
Para tantos Mortais, que a brenha encerra;
E que, livrando desse abismo fundo,
Vireis a ser Monarca de outro Mundo.

VI
Príncipe do Brasil, futuro dono,
À Mãe da Pátria, que administra o mando,
Ponde, excelso Senhor, aos pés do Trono
As desgraças do Povo miserando:
Para tanta esperança é o justo abono,
Vosso título, e nome, que invocando,
Chamará, como a outro o Egípcio Povo,
D. José Salvador de um Mundo novo.


José de Santa Rita Durão

Sua vida
Frei José de Santa Rita Durão nasceu em Cata-Pretanas (nas proximidades de Mariana), Minas Gerais. Seus estudos tiveram início com os jesuítas no Rio de Janeiro. Formou-se em Teologia pela Universidade de Coimbra e ingressou na Ordem de Santo Agostinho. Nesse período, por volta de 1759, fez uma pregação contra os padres da Companhia de Jesus pela expulsão dos jesuítas, mas depois se arrependeu durante a repressão do período pombalino, fugiu para a Itália, onde levou uma vida de estudos, durante mais de 20 anos.
Características do autor
A manifestação poética de Santa Rita Durão expressa o nativismo, estampado na exaltação da paisagem brasileira, dos seus recursos naturais, dos índios: seus costumes e suas tradições. Durão faz referências a fatos históricos, do século 16 até sua época. Apesar do retrocesso ao tipo de crônica informativa dos anos 1600, seu texto pertence à corrente literária do Arcadismo e valoriza a vida natural e simples, distante da corrupção.
Uma breve pincelada da corrente literária do Arcadismo no Brasil
O Arcadismo no Brasil teve início no ano de 1768, com a publicação do livro “Obras” de Cláudio Manuel da Costa.

Nesse período Portugal explorava suas colônias a fim de conseguir suprir seu déficit econômico. A economia brasileira estava voltada para a era do ouro, da mineração e, portanto, ao estado de Minas Gerais, campo de extração contínua de minérios. No entanto, os minérios começaram a ficar escassos e os impostos cobrados por Portugal aos colonos ficaram exorbitantes.
Surgiu, então, a necessidade do Brasil de buscar uma forma de se desvincular do seu explorador. Logo, os ideais revolucionários começaram a se desenvolver no Brasil, sob influências das Revoluções Industrial e Francesa, ocorridas na Europa, bem como do exemplo da independência das 13 colônias inglesas.
Enquanto na Europa surgia o trabalho assalariado, o Brasil ainda vivia o tempo de escravidão. Há um processo de revoltas no Brasil, contudo, a mais eloquente durante o período árcade é a Inconfidência Mineira, movimento que teve envolvimentos dos escritores árcades, como Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Cláudio Manuel da Costa, além do dentista prático Tiradentes.

O Arcadismo no Brasil é diferente do europeu. Em primeiro lugar, usa a paisagem mineira como cenário bucólico, valoriza as coisas da terra, revelando um forte sentimento nativista. A presença do índio na poesia reflete o ideal do "bom selvagem iluminista", que não existe nos poemas europeus. Outra característica é a sátira política à opressão portuguesa e da corrupção colonial.
Os principais autores árcades são: Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antonio Gonzaga, Basílio da Gama, Silva Alvarenga e Frei José de Santa Rita Durão.
Sua obra
"Viajou pela Espanha, Itália e França, voltou a Portugal na época da queda do Marquês de Pombal e a restauração da monarquia tradicional e foi quando se dedicou a escrever o seu grande poema épico "Caramuru", publicado em 1781. O qual tem como subtítulo “Poema épico do Descobrimento da Bahia”, escrito no padrão da poesia de Camões.
Conta-se que a obra teria sido recebida com indiferença e que isso fez Santa Rita Durão destruir várias poesias líricas suas.
Característica da obra
O poema épico Caramuru é publicado doze anos depois de O Uraguai, contudo não existe uma continuidade entre ambos. Nem formal, nem ideológica. Ao contrário de Basílio da Gama, admirador de Pombal, Santa Rita Durão lembra o período pombalino como uma época de horrores. Assim, a visão anti-jesuítica de seu antecessor cede lugar a uma narrativa de inspiração religiosa.

Também ao inverso de Basílio da Gama, que procurou inovar usando versos brancos e dividindo o poema em apenas cinco cantos, o bom Frei segue rigidamente o modelo camoniano de Os Lusíadas. Realiza seu poema em dez cantos, com estrofes de oito versos decassílabos e rimados.

"O Caramuru" faz um balanço da colonização em meio a uma descrição hiperbólica da natureza. Neste poema são exaltadas a fé e a defesa da terra contra os invasores. Segundo o crítico Antonio Candido, "A obra de Durão pode ser vista tanto como expressão do triunfo português na América quanto das posições particularistas dos americanos; e serviria, em princípio, seja para simbolizar a lusitanização do país, seja para acentuar o nativismo.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Fragmento de "Prosopopeia"


''LX
Olhai o grande gozo e doce glória
Que tereis quando, postos em descanso,
Contardes esta larga e triste história,
Junto do pátrio lar, seguro e manso.
Que vai da batalha a ter victória,
O que do Mar inchado a um remanso,
Isso então haverá de vosso estado
Aos males que tiverdes já passado.''


terça-feira, 26 de maio de 2009

Prosopopeia

Assim como sua biografia, são confusas as informações relativas as obras escritas por Bento Teixeira. Muitas foram lhe atribuídas. As principais são:

-Relações do naufrágio: De acordo com os estudos de Vernhagen, a obra é de autoria de Afonso Luís, piloto de uma nau chamada "Santo Antônio", citado em Prosopopéia.

-Diálogos das grandezas do Brasil: Segundo Capistrano de Abreu, a obra é de autoria de Ambrósio Fernandes Brandão.

Portanto, ao que tudo indica, Prosopopéia foi sua única obra.


Prosopopéia

Publicada em 1601, de grande valor histórico, a obra mais famosa do escritor é o poema épico, já citado, Prosopopéia. Nele, o escritor fala sobre a vida e o trabalho de Jorge de Albuquerque Coelho, terceiro donatário da Capitania de Pernambuco, e seu irmão, Duarte. É a única obra reconhecida e aceita como de sua autoria. Além disso, é a primeira obra com finalidade meramente literária publicada em solo brasileiro.

Escrito em oitava rima, com noventa e quatro estrofes, o poema marcou o início do movimento barroco no Brasil. Ao que parece, a obra foi influenciada pelo poema Os Lusíadas, de Camões. Tal influência é percebida quando analisada a sintaxe, e a estrutura. A sintaxe é extremamente clássica, cheia de inversões, o que dificulta o entendimento por um leitor do século XXI. A estrutura segue de perto a da obra de Camões, como se percebe já de inicio pela existência de proposição (Onde apresenta o assunto da epopéia: cantar os feitos de Jorge d'Albuquerque), invocação (quando pede ajuda do Deus cristão para compor seu texto) e dedicação (o texto é dedicado a Jorge d'Albuquerque, visando ajuda financeira).

De caráter heróico, a suposta coragem e valentia dos irmãos é narrada em decassílabos. Os acontecimentos abordados dizem respeito as terras brasileiras e a região de Alcácer-Quibir, na África, onde os irmãos teriam se destacado em uma importante batalha. Ambos, teriam também sofrido com um naufrágio, quando viajavam na nau Santo Antônio.

domingo, 24 de maio de 2009

Um pouco de Bento Teixeira

Bento Teixeira

(Porto, 1561 (?) - Pernambuco ou Lisboa, 1618 (?)) foi um poeta luso-brasileiro.
De biografia nebulosa, alguns o consideram brasileiro. No entanto, outra corrente o considera português. Há controvérsia também sobre o local de sua morte: alguns afirmam ser em Pernambuco; outros afirmam ser em Lisboa.

É considerado o primeiro poeta do Brasil. No entanto, essa afirmação vem sendo questionada por vários historiadores.Brasil. No entanto, essa afirmação vem sendo questionada por vários historiadores.

Apesar de ter vivido grande parte de sua vida no Brasil, Bento Teixeira nasceu na cidade do Porto. Era filho de Manuel Alvares de Barros e Lianor Rodrigues, ambos cristãos. Brasil, Bento Teixeira nasceu na cidade do Porto. Era filho de Manuel Alvares de Barros e Lianor Rodrigues, ambos cristãos.


Vida

Existem poucas e confusas informações sobre a vida de Bento Teixeira. Sabe-se que estudou no Colégio da Bahia e que frequentou um seminário no mesmo estado, após ter vindo, com sua família, de Portugal (1567 (?)). Ao revelar que era judeu, teve que fugir para o estado do Pernambuco.


Na região pernambucana, começou a trabalhar como professor de aritmética, gramática e língua latina. Casou-se com Filipa Raposa, em 1584 (?), na cidade baiana de Ilhéus.

Alegando adultério, Bento Teixeiro assassinou sua própria esposa. Tal fato, o obrigou a fugir novamente, refugiando-se no Mosteiro de São Bento, em Olinda. Isso foi possível devido ao seu direito de asilo, que vigorava até então. Lá, escreveu sua obra-prima: Prosopopéia.

Outra versão diz que Bento Teixeira foi acusado pela esposa de ser judeu. O poeta teria sido julgado e absolvido pelo ouvidor da Vara Eclesiástica da Inquisição, em 1589. Intimado posteriormente pelo visitador do Santo Ofício, acabou confessando ser seguidor da religião judia.

Irritado com a denúncia da esposa, a assassinou, se refugiando no mosteiro já citado. Localizado, foi preso e enviado para Lisboa, em 1595 (?), onde permaneceu até sua morte.



sexta-feira, 22 de maio de 2009

Poetas Épicos Brasileiros


Pouco mais de um século havia se passado desde que o Brasil fora descoberto. As poucas cidades existentes aqui nas terras brasileiras eram pequenas e, por estarem distantes umas das outras, o contato entre as mesmas era insignificante. Havia contato somente com a metrópole portuguesa.

Contudo, mesmo assim aqui nas terras do Novo Mundo começaram a surgir as primeiras manifestações literárias. Os primeiros poetas, naturalmente, seguiam os modelos europeus e, mais especificamente, os modelos portugueses. Esses poetas, é preciso reconhecer, enfrentavam enormes dificuldades para divulgar suas obras. Muitas vezes, mal alcançavam as demais cidades e vilas da colônia.

Bento Teixeira, autor de “A Prosopopéia”, viveu nos anos finais do século XVI e primeira metade do século XVII. Ele é considerado o primeiro poeta brasileiro. Alguns, por outro, afirmam que ele deve ser considerado um autor português.

Frei José de Santa Rita Durão era mineiro, tendo vivido no século XVIII. Sua obra mais conhecida é o “Caramuru”. A obra é um verdadeiro tributo à sua terra natal.

Basílio da Gama, outro mineiro, viveu na segunda metade do século XVIII. Ele escreveu vários poemas, sendo o mais famoso “O Uraguay”, escrito em 1769.

Finalmente, Cláudio Manoel da Costa, mineiro – naturalmente – foi jurista e poeta luso-brasileiro dos tempos coloniais. Sua obra de maior destaque é “Villa Rica”, de 1773.
Para fechar com chave de ouro, uma raridade de valor inestimável: Teresa Margarida da Silva e Orta, uma escritora luso-brasileira do século XVIII cuja obra começou a ser reconhecida somente a partir do século XX.